Chegou à conclusão de que o papel bond daquela fábrica era feito de fibras brancas selecionadas ; a água usada na fabricação era mais pura e filtrada ; que era secado em esteiras muito limpas. E, o mais surpreendente de tudo, o papel era inspecionado folha por folha, à mão. Esses fatos não eram de conhecimento geral naquele tempo e Adams achou tudo muito promissor para a propaganda.
O terceiro dia ele passou trancado em seu quarto no hotel, tentando fazer alguns anúncios. Levou-os, no fim da tarde, quando voltou à fábrica. O Presidente olhou-os e resmungou. Positivamente estava decepcionado. O coração de Adams afundou ; ia falhar na sua primeira viagem de vendas. Mas não ia deixar de lutar.
O Presidente balançou-se para frente e para trás na cadeira.
“Jovem”, ele disse, finalmente, “todo papel bond de qualidade é feito de fibras brancas cuidadosamente selecionadas ; todo bom papel bond é feito com pura água filtrada ; todo papel bond é secado em esteiras limpas; todos os bons papéis são inspecionados à mão. Eu não precisava de um homem de propaganda de New York para vir aqui me dizer isso. Todos sabem essas coisas sobre papel bond.”
“É mesmo ?”, perguntou Adams. “Eu nunca soube disso ! Nossa agência compra anualmente muitos milhares de dólares de papel bond. Entretanto, arrisco a dizer que não deve haver ninguém lá que saiba coisa alguma sobre fabricação de papel, salvo o fato de que os de boa qualidade são feitos de fibras.”
“O senhor vê, Sr. Merritt, nós não fabricamos papel e ninguém nos contou estes fatos antes. Sei que estes anúncios não são geniais. São apenas informativos. Mas eu sinceramente acredito quer mencionar esse ponto como qualidade do seu produto, mês após mês, fará com que as pessoas, em pouco tempo, concluam que o seu papel bond está acima da concorrência. O senhor estaria dois ou três anos à frente dos seus concorrentes. E no momento que eles começassem a anunciar o nome do seu produto já estaria gravado na memória do público. Seria quase sinônimo do melhor papel bond fabricado.”
O Sr. Merritt estava evidentemente impressionado pela lógica de Adams, mas hesitava ainda. “Mas nós seríamos motivo de piada para os outros fabricantes de papel do país. Vão rir quando nos ouvirem falar desse jeito sobre o nosso papel, como se todos os outros papéis não fossem fabricados com a mesma técnica.”
Adams inclinou-se um pouco, olhou bem dentro dos olhos do Sr. Merritt e disse : “Sr. Merritt, para quem exatamente o senhor deseja anunciar ? Para fabricantes de papel ou para compradores de papel ? “ “Compreendo”, disse o Presidente. “Você está certo. Começo a perceber que propaganda não é algo mágico e sim o mais puro e
elementar bom senso.”
Adams voltou a New York com um contrato para campanha de uma ano, a ser feita como a agência achasse adequado. A campanha foi um sucesso de saída. Entretanto, ao ser analisada, via-se que Adams não tinha feito nada além do óbvio.
O Sr. Oswald, ainda na Europa, soube do sucesso de Adams. Mandou uma carta de felicitações. Mas o que mais intrigou Adams foi que o envelope tinha sido endereçado para : Adams Óbvio. O apelido “Óbvio” se espalhou logo pela empresa toda, e pegou.
A campanha de papel bond ficou famosa, e com ela seu autor e seu apelido. Hoje ele é conhecido entre os homens de propaganda, do Pacífico ao Atlântico. Talvez nem meia dúzia de pessoas o conheçam pelo nome verdadeiro. Pois ele costumava assinar simplesmente “O.B.Adams”. Quase todas as revistas que você folheia mostram a influência
da obviedade de Adams.
Os anúncios dos Chapéus Monarch, por exemplo, sempre eram ilustrados com homens de corpo inteiro, fazendo com que os chapéus parecessem pequenos e insignificantes.
“Vamos mostrar o chapéu e não o homem”, disse Adams um dia quando olhava uma foto no Departamento de Arte. “Se os homens pudessem ver esta foto neste tamanho, eles comprariam o chapéu.
Mas na redução da foto a gente perde muito !”
Em seguida, pegou uma tesoura e começou a recortar aquela magnífica foto, de todos os lados. Até que restou nada mais que um chapéu, um rosto sorridente e só um detalhe do colarinho e da gravata.
“Bem”, disse Adams colocando o recorte sobre uma página de revista, quase ocupando todo o espaço, “publique isto e ponha o texto no canto esquerdo.”
Hoje em dia é comum encontrar, nas páginas das revistas, rostos quase do tamanho natural, sorrindo para você. E eles não passam desaparecidos.
Com seus close-ups, Adams era o Griffith da propaganda. Ambos faziam apenas o óbvio.
Adams descobriu também que os anúncios não tinham de berrar suas mensagens em tipos garrafais. Provou que as pessoas lêem anúncios de quatro páginas, com muito texto, desde que o layout conduza facilmente à leitura e que o texto seja tão interessante e dramático quanto uma história.
Você pode ficar surpreso ao saber que Adams não era o tipo de homem particularmente interessante para se conhecer. Não tinha nenhuma das características normalmente atribuídas aos gênios : não era temperamental. Desde o começo, trabalhou em campanhas difíceis, aconselhando aqui, orientando lá, retraindo-se algumas vezes, cometendo erros ocasionais, mas sem nunca repeti-los.
Com sua habilidade em merchandising, salvou inúmeras empresas do naufrágio, e as colocou de volta a navegar em águas calmas, com os ventos soprando a favor. Ajudou empresas de fundo de quintal a se transformarem em grandes indústrias. Modificou os hábitos nacionais da refeição matinal. Transformou marcas de produtos em substantivos comuns nos dicionários. Mas, considerando toda sua experiência e reputação, ele é desinteressante pessoalmente - a menos que você o encontre, como eu, em casa, confortavelmente instalado em sua cadeira predileta, em frente à lareira,
fumando gostosamente um bom charuto.
Foi em resposta à minha pergunta “Como você ganhou o apelido de Óbvio ?”. que ele contou alguns dos fatos que acabei de relatar.
“Não nasci Óbvio”, reagiu. “Há muito tempo o Sr. Oswald rotulou-me de ‘Óbvio’. Naquela época, eu nem parava para pensar se uma coisa era óbvia ou não. Só fazia o que ocorria naturalmente, depois de ter refletido muito. Não tenho mérito pessoal algum nisso. Simplesmente aconteceu.”
Então, insisti. “Por que mais homens de negócios não fazem o óbvio ? O pessoal da sua agência conta que frequentemente passam horas imaginando o que você vai sugerir, depois deles próprios tentarem concluir o que é óbvio. E, mesmo assim, você os surpreende sempre.”
Adams sorriu. “Bem”, disse ele, “depois que me colocaram esse apelido, tenho pensado muito na questão e cheguei à conclusão que fazer o óbvio exige muita análise.
Para analisar, é preciso pensar e acho que o Professor Zueblin está certo quando diz
que pensar é o trabalho mais árduo que as pessoas têm de fazer.
E elas não gostam de pensar nem um pouco a mais do que o necessário.”
As pessoas procuram sempre o caminho mais fácil, através de atalhos ou truques, que chamam da coisa óbvia a fazer. Mas rotular essas saídas de óbvio não quer dizer que realmente sejam. Elas não
levantam todos os dados, nem analisam antes de decidir o que seja óbvio.
E assim passam por cima do primeiro e mais óbvio mandamento dos negócios.
Quase sempre, esta é a principal diferença entre o pequeno e o grande e bem sucedido empresário. Muitos pequenos negócios sofrem de um agudo caso de miopia empresarial, que seria curável,
se seguissem o caminho óbvio de chamar um especialista para corrigir sua visão e dar-lhes
uma verdadeira análise da empresa e de seus métodos.
A mesma coisa pode ser dita de um bom número de grandes empresas.
“Algum dia”, ele continuou, “muitos homens de negócios vão acordar e perceber o poder e a sensatez do óbvio. Alguns já perceberam. Theodore Vail, por exemplo, se preocupou com a ociosidade do telégrafo, que ficava parado diariamente, durante oito horas, e inventou a night letter, para aumentar o movimento durante as horas ociosas e gerar novos negócios. O que poderia ser mais óbvio ? “
“Observe os homens que estão ganhando salários de mais de 100 mil dólares por ano. Eles são evidentemente os fazedores do óbvio.”
“Espero que um dia nossas Prefeituras despertem para o fato de estarem ignorando o óbvio, quando permitem que nossas Bibliotecas Públicas passem, ano após ano, cumprindo apenas a metade de sua função social. Com apenas 2 ou 3% da verba aplicada na compra de livros e publicações, poderiam fazer uma campanha de propaganda em jornais, para desenvolver o hábito de usar a biblioteca e fazer as pessoas perceberem o valor da leitura, duplicando a utilidade das bibliotecas para suas comunidades. Que maravilha anunciar uma biblioteca ou um grande museu de arte !”
“Chegará também o dia, imagino, quando as estradas de ferro vão deixar de manter em segredo os preços das passagens. Elas vão ganhar um dinheirão quando as pessoas que normalmente viajam pouco descobrirem como é barato viajar de trem. Elas irão incluir os preços das passagens nas suas tabelas de horários, não de todos os percursos, mas pelo menos dos principais.”
“O que fazem é colocar o dedo na frente dos lábios e sussurrar : ‘pssh! nós cobramos um preço adicional nesse trem, mas não dizemos o quanto é e você que descubra’. Conheço um homem que morou em New York cinco anos e sempre quis ir à Filadélfia para ver a cidade, mas nunca foi porque sempre imaginou que custava muito mais caro do que o real. Mas nuca teve a iniciativa de perguntar. Entretanto, perguntar não deveria ser necessário. Algum dia, as ferrovias vão fazer o óbvio e anunciar para aquele homem.
E há centenas de milhares como ele.”
Nesse ponto, o Sr. Adams olhou para o relógio. Ele se desculpou, ligou para a garagem e pediu seu carro. ia pegar o trem noturno para Chicago e tentar resolver uma situação difícil de um grande cliente, fabricante de cereais, para refeição matinal. Ele era o homem indicado para recomendar o rumo certo.
Quando íamos para a cidade, num luxuoso carro, ele mergulhou nos seus pensamentos.
Eu mergulhei também nos meus. Qual seria o segredo do sucesso deste homem ? Perguntei a mim mesmo. Então, me lembrei de uma composição de uma criança sobre as montanhas da Holanda.
O garoto escreveu :
As montanhas da Holanda.
Não há montanhas na Holanda.
Esta é a resposta, concluí. Este é o segredo.
É o óbvio !
Notas do autor muitos anos mais tarde.
Cinco maneiras de testar o óbvio.
Em 1916, quando o livro “Adams Óbvio” foi publicado pela primeira vez, achei que levar os homens de negócios a fazer o óbvio seria fácil : bastaria apontar a solução óbvia ou o caminho a seguir.
Eu estava completamente errado. Descobri que, na maioria das situações, figurativamente, quase se todos nós vamos de New York a Mineápolis, via New Orleans, ao invés de pegarmos a rota mais direta e óbvia.
O problema é que o óbvio tende a ser tão simples e comum, que não tem apelo à imaginação. Todos nós gostamos de idéias inteligentes e planos engenhosos, que sejam algum motivo de conversa na hora do almoço. Há alguma coisa a respeito do óbvio que é, Santo Deus, tão óbvio....!
Em todas as atividades, o óbvio sempre funciona. Nos negócios, ele é seguro e lucrativo.
Então fiz uma segunda descoberta : somos inclinados a exagerar na busca do óbvio.
Tentamos encontrá-lo através do raciocínio lógico.
O pensamento lógico é um dos processos mentais mais cheios de armadilhas. O que elegemos como solução óbvia ou o caminho a seguir muitas vezes não é, de forma alguma, o óbvio, mas mera racionalização.
Como, então, reconheceremos o óbvio ?
Através dos anos, desenvolvi cinco maneiras de testar o óbvio. Não são
100% seguras. Nada é totalmente seguro neste mundo complexo e mutante em que vivemos.
Mas estas são as normas práticas para checá-lo .
A PRIMEIRA MANEIRA DE TESTAR O ÓBVIO, eu copiei do Sr. Kettering, da General Motors,
que mandou colocar uma placa no Edifício da GM, em Daytona :
“Este problema, depois de resolvido, será simples .”
O óbvio, quase sempre, é simples - tão simples que , muitas vezes, uma geração inteira de homens e mulheres olham para ele sem vê-lo . Quando uma idéia tenta ser esperta, engenhosa ou complicada, deveríamos desconfiar. Provavelmente não é óbvia.
A história da ciência, das artes e dos grandes avanços no mundo dos negócios é a história dos homens encontrando, por acaso, soluções fáceis para problemas complexos.
Parafraseando o provérbio do Sr. Kettering : “A solução, quando encontrada, será óbvia”.
A SEGUNDA MANEIRA DE TESTAR O ÓBVIO é a pergunta :
Esta solução é compatível com a natureza humana ?
Se você não tiver absoluta certeza de que sua idéia ou plano vão ser facilmente compreendidos - e aceitos - pela sua mãe, sua mulher, irmãos, irmãs, primos, vizinhos, colega que trabalha na mesa ao lado, o mecânico que conserta o carro, o pároco, seu barbeiro, o gerente da mercearia onde sua mulher faz compras, o pretinho que engraxa seus sapatos, sua tia Mary, sua secretária, seu companheiro do trem das 5:29, seus amigos mais francos e sinceros - se você não se sentir à vontade ao explicar sua idéia “óbvia” a eles, é porque, provavelmente, a idéia não é óbvia.
Essa gente vai vê-la na sua realidade mais simples, livres das complicações de envolvimento profissional e técnico, e das inibições nascidas da experiência.
Coletivamente, essas pessoas são uma amostra da natureza humana e essa mesma natureza humana constrói ou destrói qualquer plano ou a solução de qualquer problema. É o que rege a vida,
os negócios, a ciência e as artes.
Quer se trate de vender mercadorias para pessoas, ou conseguir adesões para uma causa, ou convencer as pessoas a agirem de uma certa maneira, ou persuadi-las a mudar hábitos antigos, de nada adiantará,
se a sua maneira de fazer isto não estiver de acordo com a natureza humana.
Você vai perder tempo, dinheiro e energia, tentando atingir seus objetivos.
O público é curiosamente óbvio em suas reações - porque a mentalidade do público é simples,
direta e sem sofisticações.
A TERCEIRA MANEIRA DE TESTAR O ÓBVIO é colocar a idéia no papel.
Escreva seu plano ou projeto em palavras de uma ou duas sílabas, como se você o
estivesse explicando a uma criança.
Será que você consegue isso em dois ou três parágrafos curtos, que façam sentido ? Se, entretanto, a explicação ficar longa, envolvente, engenhosa, é bem provável que não seja óbvia. Porque, repetindo :”Quando você encontrar a resposta, ela será simples “.
Nenhuma idéia, plano, programa ou projeto é óbvio, a menos que possa ser compreendido e
executado por qualquer pessoa de inteligência média.
Frequentemente, a simples tentativa de colocar no papel uma idéia ou o rascunho de um plano
de um plano mostrará logo suas fraquezas ou complexidades. Ao fazer isto, você verá o que está
errado e poderá chegar a uma solução simples e óbvia. Certamente, escrever é uma maneira
rápida de verificar o que é que você tem ou não tem !
A QUARTA MANEIRA DE TESTAR O ÓBVIO. Ele “explode” na cabeça das pessoas ?
Se, quando você tiver apresentando sua idéia, delineado uma solução para um problema, ou explicado um plano, projeto ou programa, as pessoas disserem : “Puxa ! por que não pensamos nisso antes ?” Você pode sentir-se encorajado pois as idéias óbvias tendem a produzir na mente esse tipo de reação “explosiva”.
Em muitos casos, desse momento em diante, tudo parece entrar nos eixos, sem maiores explicações ou discussões. É óbvio demais e não necessita de considerações prolongadas. Mesmo com esse tipo de reação, entretanto, é aconselhável deixar a decisão para dentro de um ou dois dias.
Porque algumas vezes há defeitos ocultos que só aparecem no dia seguinte.
Se uma idéia ou proposta não “explodir”, ou precisar de explicação longa, ou envolver horas de debates, ou não é óbvia ou talvez você não tenha pensado o suficiente para reduzi-las à sua mais óbvia simplicidade.
“Explosões” mentais são reveladas pelas coisas que as pessoas dizem, pelos rostos iluminados,
pelos olhos que aprovam, quando deparam com uma idéia óbvia.
É um dos modos mais infalíveis de reconhecer o óbvio.
A QUINTA MANEIRA DE TESTAR O ÓBVIO é saber reconhecer o momento certo.
Muitas idéias e planos são óbvios em si, mas obviamente aplicados fora de hora. Identificar o momento exato é tão importante quanto checar se o plano ou idéia são óbvios.
Algumas vezes, o momento pode ter passado definitivamente e irrevogavelmente.
E aí o mais óbvio a fazer é esquecer a sua idéia.
Em outras ocasiões, o momento certo ainda não terá chegado, o que exige paciência e atenção.
O presidente de uma indústria de borracha me mostrou certa vez um “Armário do Futuro”, onde ele guardava artigos incomuns feitos inteira ou parcialmente de borracha, mas que estavam adiantados para a época. Estes artigos haviam sido desenvolvidos em laboratórios de pesquisa da empresa, mas ainda eram muito caros para competir com similares feitos de outros materiais. Assim, eles ficavam “guardados na prateleira” até que seu preço se tornasse competitivo, seja através do desenvolvimento dos métodos mais econômicos de produção, ou porque os preços dos concorrentes tivessem aumentado. (Desde então, alguns desses produtos do “armário” foram lançados no mercado, com sucesso, e hoje são corriqueiros).
Depois do primeiro teste - o da simplicidade - o teste do momento exato é muito importante na checagem da obviedade de um plano ou programa.
“Uma das virtudes principais”, escreveu Emerson em seu diário, “é reconhecer o momento oportuno. Meu vizinho constrói carrocerias, faz trenós durante todo o verão ; e durante todo o inverno faz leves e alegres charretes para junho e agosto. Assim, no primeiro dia de cada estação, ele está preparado...”
Estar pronto para o momento oportuno, é o requisito óbvio.
Normalmente, não é necessário aplicar todos os cinco testes de obviedade a determinada idéia, plano, projeto ou programa. Mas é sábio pensar neles todos até estar bem certo que não se aplicam, antes de ignorá-los. É sábio, porque é óbvio proceder assim. É óbvio, porque é sábio reconhecer nossa tendência de convencer-nos facilmente de que nossas idéias são boas.
Mesmo quando estivermos convencidos de que temos uma idéia óbvia, nosso problema não estará inteiramente resolvido. A menos que seja uma que vá de encontro do quarto teste. (Será que ela “explode” na cabeça das pessoas?) - ainda assim, teremos de vendê-la. E a venda pode ser mais difícil, só pelo fato de ser uma idéia completamente óbvia - para nós.
Somos impacientes com outras pessoas se não “comprarem” nossas idéias logo de saída. Como explicou Robert Rawls em “Tempo de Reflexão” : às vezes, dedicamos dias, semanas ou meses desenvolvendo nossa idéia, ficamos tão familiarizados com seus prós e contras, que esperamos que outras pessoas a aceitem imediatamente - só porque nós mesmos estamos propondo. Isso quase nunca acontece. As pessoas têm de ter tempo para pensar e digerir mentalmente. É direito delas.
Cabe a nós explicar nossas idéias com simplicidade e clareza. E deixar que as pessoas perguntem o que quiserem. A sabedoria é tentar encorajá-las a nos desafiar com críticas. Se é óbvia, a idéia vai sobreviver a perguntas e críticas. Se não for, ela corre riscos . Será melhor que nós mesmos a analisemos novamente.
Estes cinco testes de obviedade são apenas sugestões. Cada executivo deveria desenvolver seus próprios testes. O problema é ter a certeza de que não estamos sendo levados pelo nosso próprio entusiasmo por uma idéia ou plano, na fácil suposição de que seja óbvio. Fazer o óbvio não é tão simples quanto parece!
Cinco caminhos criativos para reconhecer óbvio.
Onde e como vamos descobrir o óbvio?
Aqui estão algumas perguntas-teste que devem, pelo menos, conduzir a imaginação
através dos caminhos óbvios.
1 . Não se impressione como a coisa sempre tenha sido feita ou como outras pessoas gostariam de fazê-la.
O importante é saber : qual a maneira mais simples de fazê-la ?
Esqueça todas as idéias, práticas, métodos, técnicas e tradições já usadas. Se uma criança de sete anos desarmada de preconceitos de gerações estivesse, pela primeira vez, analisando o problema,
como será que ela o faria ?
A experiência da vida é valiosa - mas pode intimidar, dificultar, complicar e afastar-nos do óbvio. É preciso pensar de forma simples, nova, original e corajosa para simplificar qualquer coisa.
E não esqueça - “Este problema, quando for resolvido, será simples”.
Existe uma maneira perfeita e mecânica de simplificar um plano ou projeto ou de analisar uma idéia, para testar sua simplicidade. Registre cada item num papel. À medida em que você for escrevendo, cada item, aplique a pergunta-teste : Será que este item é absolutamente necessário ?
É muito comum a gente descobrir, sem querer, ter começado no ponto em que os outros pararam. assim você está aceitando a somatória de idéias de outros homens. Considerando que a maioria das idéias se desenvolveram por acréscimo - como uma bola de neve - o jeito óbvio de simplificar uma idéia é começar novamente. A técnica óbvia é eliminar todas as partes ou características supérfluas. Vá ao cerne do problema. Pergunte a si mesmo : “O que eu estou tentando fazer ? E por que ? “
Um dos nossos maiores problemas, hoje em dia, é termos muitos métodos e práticas, muita maquinaria complicada, muitas ferramentas, muitos costumes e tradições profundamente arraigados. Pensamos e planejamos nossas bases, construindo por cima de uma fundação enrijecida de experiências e hábitos acumulados através de anos. Ao invés disto, deveríamos começar do zero, como se, a cada manhã, acordássemos num mundo novo, onde nenhum dos problemas da vida e dos negócios,
das artes e das ciências, tivessem sido jamais resolvidos.
Este é o primeiro - e mais óbvio caminho para ser óbvio.
2 . Imagine como seria divertido se tudo pudesse ser completamente invertido.
Nada abre mais a mente para um caminho novo do que fazer esta corajosa consideração.
O fato de uma coisa ter sido feita ou construída de um certo jeito, por vários séculos,
significa, provavelmente, que chegou a hora de questioná-la.
Talvez o óbvio seja, realmente, inverter as coisas de algum modo.
A história de como R.J. Pigott, Diretor de Engenharia da Gulf Oil desenvolveu um
“dispositivo óbvio” para lubrificar ferramentas de corte é um desses casos.
Pigott estava olhando uma ferramenta produzir rebarbas espirais de uma peça de aço que girava num torno. Um fio de óleo caía do alto, enquanto a lâmina estava cortando por baixo.
Um pensamento lhe ocorreu : “Como o óleo por cima pode fazer um bom trabalho de
resfriar e lubrificar a ferramenta na parte de baixo ?”
Ele foi para a prancheta e projetou um jato de alta pressão, para dirigir o óleo para cima, exatamente entre lâmina da ferramenta e o metal torneado. O novo método não só permitiu maior
velocidade de corte como também aumentou a vida da ferramenta.
Pigott chegou a um método óbvio de lubrificar usando a técnica da inversão.
Se o revolucionário Convair Sea Dart, um avião a jato, que pode decolar da água, chegar
a fazer tudo o que promete, será porque o criador do projeto, Ernest G. Stout,
usou esta mesma técnica de inversão. A história continua. Apesar das muitas vantagens,
e o fato de 4/5 da superfície terrestre serem cobertos de água, arqui-inimiga
de todos os aviões que pousam em terra, o hidroavião foi relegado ao esquecimento por todos.
Todos, menos pelo jovem Stout, e um pequeno grupo de homens da Marinha e engenheiros da Costa Oeste.
Stout acaba de lançar um avião a jato que pode decolar e pousar na água. Por mais de quatro décadas, o hidroavião não passava de um barco com asas, o que não é um bom desenho aerodinâmico. Stout teve uma inspiração. ao invés de desenhar um barco que podia voar, ele se dispôs a fazer um avião que pudesse flutuar.
Usando essa técnica de inversão, ele desenvolveu uma dos mais notáveis aviões do mundo, com a forma de um dardo de papel, praticamente impossível de afundar. Ele promete iniciar uma das mais surpreendentes mudanças um estratégia militar, desde a invenção da bomba atômica. O Sea Dart é um avião óbvio.
3 . Será que você conta com a aprovação e com a participação do público no seu projeto ?
Nos negócios, muitas decisões são tomadas dentro dos escritórios e não
nos lugares onde a ação realmente acontece.
Uma famosa rede de supermercados de Chicago decidiu lançar sua própria marca de café. Os especialistas em café podiam, é claro, recomendar as misturas e tipos de torrefação. Mas o presidente da empresa preferiu fazer com que as famílias de Chicago escolhessem elas próprias a mistura e
o ponto de torrefação que desejassem.
Foram preparadas quatro amostras com misturas e graus diferentes de torrefação, embaladas em latas de meia libra sem identificação. Essas latas, cada uma representando uma diferente combinação de misturas e torrefação, foram distribuídas a milhares de domicílios, com um questionário para ser respondido,
indicando a preferência.
Desse modo, a rede de supermercados lançou o “Royal Jewel - o Café que Chicago escolheu“. O sucesso do produto já estava garantido pois o próprio público o havia escolhido.
Muito frequentemente, alguns testes simples com um grupo maior ou menor de pessoas fazem surgir a preferência óbvia ou a maneira óbvia de fazer, produzir, ou dizer alguma coisa.
Sendo o público quem decide o nosso sucesso ou fracasso em tudo que tentamos fazer, parece muito óbvio pesquisar nossos planos junto ao mercado, antes de irmos longe demais.
4 . Quais oportunidades estão passando desapercebidas porque ninguém se importou de examiná-las ?
Na matriz de uma grande companhia de seguros, um homem ganhou um prêmio de 600 dólares por uma simples idéia na caixa de sugestões. Seu conselho aos companheiros :
“Procure o óbvio com o qual ainda ninguém se importou”.
Existem, literalmente, milhares de idéias óbvias, em todos os negócios e profissões,
que até aqui “ninguém se importou em examinar”. São tão lugar-comum,
que ninguém as percebe. No seu livro, Ray Giles conta a seguinte
história que ilustra o fato de haver grandes oportunidades no óbvio.
“Há alguns anos atrás, o vendedor de uma mercearia estava cortando queijo - um enorme queijo
tipo Americano. Quando você pedia meio quilo, o homem levantava
a tampa de vidro e cortava uma fatia calculando o peso.
Enquanto isso o queijo ficava descoberto, sujeito ao pó e às moscas. Se tivesse pouca saída,
o queijo esfarelava antes de terminar. A única proteção era uma casca grossa,
pela qual você tinha de pagar, juntamente com o peso do queijo.
Um dia, o vendedor teve uma idéia - uma dessas bem óbvias que podia ocorrer a qualquer um : “Por que não dividir o queijo em fatias e acondicioná-las em embalagens higiênicas ?” Esse vendedor chamava-se J.L. Kraft . Toda vez que você comer um queijo Kraft não se esqueça :
“Uma idéia simples e óbvia pode levar à fortuna”.
Em quase tudo que usamos em nosso cotidiano existe oportunidade para aperfeiçoamento - muitas vezes tão óbvio que deveríamos ter vergonha de nossa cegueira.
Benjamin Franklin, incomodado por ter de usar dois pares de óculos - um para perto e outro para longe -, desenvolveu as lentes bifocais, uma benção para toda a humanidade. Nada poderia ser mais óbvio.
Esse caso sugere que a melhor técnica para descobrir o óbvio é dar uma olhada bifocal em tudo o que usamos, fazemos e precisamos. Examinar de perto para ver se um detalhe pode ser melhorado;
olhar de longe para ver se não há uma forma diferente para atingir o mesmo fim.
Uma forma que seja mais simples, mais eficiente e mais econômica.
5 . Quais são as necessidades específicas do caso ?
Muitas vezes, a própria situação indica alguma oportunidade de aperfeiçoamento,
que ainda não foi considerada.
David A. Crawford, Presidente da Pullman Inc., me disse há anos atrás que ele percebia a necessidade de acomodações nos trens que oferecessem, ao mesmo tempo, mais privacidade que os antigos beliches, e fossem mais lucrativas para as ferrovias do que os tradicionais carros dormitórios, de capacidade limitada de lugares. Ele explicou o problema aos seus projetistas e estes desenvolveram um conceito
inteiramente novo de carros-leito.
Podemos chamar isto de criatividade óbvia, oriunda de uma situação insatisfatória.
Há também o caso dos Hartford Brothers, com suas lojas tipo Pegue e Pague . O caso do Woolworth, com suas lojas de dois mil réis. Os postos de gasolina, com suas toaletes limpas para motoristas. Ou o inventor da caneta esferográfica que acabou com o tinteiro. A Du Pont com suas fibras sintéticas que não amarrotam.
Todas estas soluções eram criativamente óbvias. E também atenderam aos desejos e necessidades do público muitas vezes não expressos e nem mesmo percebidos. Entretanto, no momento em que alguém as transformou em soluções, ficou óbvio que a necessidade já existia há muito tempo.
O mundo está cheio de desejos, vontades e necessidades não expressas, esperando pelo homem ou pela mulher que faça o óbvio para resolver grandes problemas da vida diária.
- E essas pessoas serão regiamente recompensadas, boa sorte !